Mulher, Advogada, Educadora, Pastora Evangélica, Nordestina de coração e agora Ministra dos Direitos Humanos. Quem é Damares Alves, a assessora parlamentar pró-vida que tem chamado a atenção da mídia nacional e tirado o sono de velhos lobos da antiga política?
Por Lucas Camargos
O que se sabe sobre a nova Ministra dos Direitos Humanos através dos jornais é de que se trata de uma mulher “de direita, assessora do Senador Magno Malta, militante contra pautas feministas como o aborto e ideologia de gênero”. E que “encontrou Jesus na goiabeira”…
Para entidades e pessoas do Brasil inteiro, estas são informações ainda muito rasas sobre quem é a famosa advogada de pequenos curumins que teriam um destino assombroso se não fosse sua interferência. Mas isso nós falaremos mais à frente…
Nascida no ano de 1964, Damares Alves é uma mulher tipicamente nordestina. Aprendeu que a vida no Brasil pode ser muito dura para quem não nasce em berço de ouro. Filha de um pastor e uma humilde dona de casa, de nome Guilhermina, a Ministra, cresceu morando em diversas cidades do Nordeste.
Aos 6 anos de idade foi abusada sexualmente. O resultado de sucessivos abusos acarretou a incapacidade de gerar uma criança no útero, além de carregar durante muito tempo as marcas na alma deixadas por seu algoz, que sempre a culpava, fazendo acreditar que ela o havia seduzido.
Damares é o retrato novamente de milhares de meninas e mulheres que lêem este artigo. Segundo a ONG Save The Children, o Brasil é o pior país para se criar meninas na América Latina e o quarto país no mundo em casamentos infantis.
Educadora, Advogada, Assessora Parlamentar e defensora dos direitos humanos. Este último adjetivo não foi ensinado em uma universidade, mas conquistado nas ruas do Nordeste e nos bastidores do poder. Damares Alves fez da sua dor sua maior aliada. Desafiada por sua história de abusos na infância, tornou-se, em meados da década de 1980, uma das fundadoras do Comitê Estadual de Sergipe do Movimento Nacional Meninas e Meninos, que tinha como principal função social a proteção de crianças moradoras de rua. Amigos de sua juventude relatam como a aguerrida jovem fazia de seu pequeno apartamento muitas vezes o lar temporário dessas crianças. Por noites, era encontrada no calçadão de Aracaju dormindo com os meninos que corriam risco de serem agredidos e até mesmo eliminados.
Também em Sergipe até o final da década de 80 atuou fortemente na defesa dos direitos das mulheres pescadoras e trabalhadoras do campo. Existe ainda hoje na cidade de Siriri em Sergipe, um centro social que recebeu, em 1987, seu nome: Damares Alves.
Defensora dos Direitos Humanos também para a família de Kanhu haká Kamayurá, uma jovem indígena tetraplégica, “princesa” por ser neta do Kotoqui Kamayurá um famoso Cacique de um dos povos da área indígena Xingu.
Foi Damares quem teve a coragem de quebrar o silêncio e trazer para a sociedade e para o parlamento o debate sobre o infanticídio indígena e a falta de assistência médica e dignidade humana das Pessoas com Deficiência em meio aos povos tradicionais.
Hoje, cerca de 20 etnias mantém o costume de sacrificar suas crianças quando nascem gêmeas, com qualquer deficiência física ou mental. São sacrificados ainda filhos de mães solteiras ou crianças que sejam consideradas amaldiçoadas.
Estima-se que mais de mil crianças indígenas sejam sacrificadas por ano no Brasil. No Senado Federal tramita um Projeto de Lei, idealizado pelo Movimento Atini quando ainda liderado por Damares Alves*, para que as crianças indígenas em situação de risco sejam protegidas.
Uma das fundadoras do Movimento Brasil sem Aborto luta pelo direito à vida do nascituro. Embora suas palestras sejam na maioria em templos religiosos, são munidos de dados científicos e jurídicos que demonstram que a vida humana apenas se diferencia pelo seu estado de desenvolvimento. Para a advogada, não é a religião, nem a filosofia, e muito menos uma lei que possuem a prerrogativa de definir quando começa ou não a vida humana, mas compete exclusivamente à ciência.
No Congresso Nacional há mais de 25 anos, a advogada é considerada uma referência no que se refere ao combate à pedofilia e à proteção da infância. Possui um extenso currículo em palestras de conscientização e enfrentamento ao tema.
Advoga voluntariamente há 30 anos para mulheres em situação de vulnerabilidade social e violência doméstica, além de causas controversas como a da alienação parental.
Em tempos em que falamos de representatividade e empoderamento, podemos encontrar neste nome dado para ser Ministra dos Direitos Humanos, alguém cuja história de vida identifica-se com os mais diversos grupos em situação de vulnerabilidade social do país.
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Coordenadora do Movimento Nacional pela Cidadania Brasil Sem Aborto;
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Coordenadora do Movimento Nacional Brasil Sem Drogas;
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Coordenadora do Instituto Flores de Aço com sede Brasília que milita em defesa dos direitos da mulher;
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Uma das fundadoras do Movimento Brasil Sem Dor, que atua na prevenção da automutilação, da autolesão e do suicídio de jovens crianças e adolescentes;
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Coordenadora da Campanha “Brasil Um País que Adota”;
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Membro do Programa Mundial Infância Protegida;
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Fundadora da instituição e Movimento ATINI – Voz Pela Vida, que tem uma chácara em Brasília, onde são acolhidas as mães e crianças indígenas em situação de risco;
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Co-idealizadora do Projeto Tekoê, que tem sede no Gama/DF e que também acolhe mães e crianças indígenas em situação de risco.
Esta é Damares Alves a nova Ministra das Mulheres, Família e Direitos Humanos.
Desde sua indicação, mais de 300 instituições e movimentos emitiram nota de apoio a seu nome.
Em muitos acampamentos ciganos e em muitas aldeias indígenas a notícia foi recebida com muita alegria e esperança.
* Damares se desligou da ONG Atini no ano de 2015. Os processos que correm em segredo de justiça e foram vazados por um meio de comunicação referem-se à ONG e não citam a futura Ministra.
Foto: Instagram damaresalvesoficial1