Liberdade, Direitos, Aborto ou Adoção?

No sábado (25), Klara Castanho teve sua vida exposta após notícias sobre uma gravidez virem à tona.[…] A história acabou tomando proporções gigantescas nas redes sociais e, no sábado (25), Klara fez uma carta aberta contando todo o processo […]  a atriz explicou que a gestação foi decorrência de um estupro  e que a notícia foi vazada por uma enfermeira do hospital onde deu à luz. (purepeople.com.br 27/6/22)

A atriz, de 21 anos, viu seu nome envolvido em um verdadeiro escândalo nas redes sociais – o que está gerando o maior embate de opiniões e críticas como a acusação de frieza por optar pela entrega à adoção. Ou, talvez, por ter mantido a gestação a partir de um fanatismo religioso…

Duas questões imediatamente se evidenciam:

  • Teria sido melhor provocar o aborto precoce, não passível de punição conforme o Código Penal?
  • Uma vez que chegou praticamente ao final da gestação, por que entregar para a adoção?

As forças que movem a História movem o coração humano, para a construção de uma sociedade para o bem ou para o mal e essas são as motivações que devem ser identificadas, sobretudo em situações de confusão social.

Hoje, impera superficialmente, mas com grande intensidade, o desejo de liberdade e realização pessoal. Porém, mais profundamente, identificamos o desejo de que surja algo bom, algo novo, algo que faça uma luta “valer a pena”, sobretudo entre os jovens. Uma grande falha está em acusar, em lamentar o mal e não realizar uma revisão individual já que toda tragédia e toda injustiça devem levar a uma mudança e compromisso pessoal.

Sempre existe um valor básico de referência e ele se identifica com a verdade. É preciso a simplicidade de reconhecer que existe um incrível Mistério na Vida, em cada um de nós que recebemos a existência sem nenhum esforço pessoal. Cada vida humana, desde seu início, traz uma beleza única e irrepetível que muda o mundo: traz uma maneira própria de pensar, de cantar, de amar que ninguém poderá substituir.

Existe uma exigência interior pela justiça para respeitar toda pessoa humana sem discriminação de cor, idade, posição social. Do que adianta uma ideologia que grita pela justiça social, mas não protege cada pessoa individualmente? Qual sociedade será aquela em que se pode eliminar uma criança por determinação de quem ocupa um cargo que aparentemente lhe confere poder para tal?

Este é o caminho para uma sociedade menos desumana?

“Uma criança nasceu. O mundo tornou a começar”, disse Guimarães Rosa. Na gestação, a nova pessoa está em rápido desenvolvimento. Cada minuto traz uma diferença. Entretanto, o importante é que está lá. É uma PRESENÇA. Esta é a verdade. Para a mulher que foi surpreendida por essa presença real inesperada, pode haver a sensação de ter sido invadida, usada, porém não pode evitar de se experimentar habitada por outro ser que depende totalmente dela.

Esta é a alavanca para uma revolução social de compreensão e acolhimento, a partir da liberdade pessoal capaz de reconhecer o outro humano mais escondido e sem condições para gritar.

Onde está o valor maior na questão exposta? Onde está a realidade maior? Qual o fundamento para as diferentes opiniões?

Há uma concordância inicial: o estupro é crime abominável e o criminoso deve ser penalizado. Entretanto, qual a solução quando acontece uma gestação? A legislação não pune se for realizado um aborto, lembrando que 22 semanas ou 500 g define o limite para aborto.

Assim, nesse caso, é possível provocar o aborto no Brasil. Porém, cabe a pergunta: se cada um deve decidir livremente, por que, ao manter a gestação e, eventualmente, entregar a criança para adoção surgem críticas e julgamentos negativos? Por que não há o apoio, o incentivo, o reconhecimento da coragem?

A mãe que assume a gestação inesperada, protege a nova vida seguindo o impulso do coração e da razão pela intuição, pressentimento ou reconhecimento da verdade de que cada pessoa, desde seu início é mais valiosa do que qualquer obra de arte. O corpo que existe desde o primeiro minuto manifesta a realidade de uma presença humana no seu potencial de se tornar progressivamente reconhecida.

A opinião de terceiros a partir de uma posição parcial, leva sempre a argumentos ideológicos e julgamentos errôneos. Não se percebe a dor pelo acontecimento: seja pela violência sofrida, seja pela criança.

Diante das críticas por ter optado pela entrega da criança para adoção, a atriz assim encerrou sua declaração: “Entregar uma criança em adoção não é um crime, é um ato supremo de cuidado. Eu vou tentar me reconstruir, e conto com a compreensão de vocês para me ajudar a manter a privacidade que o momento exige. Com carinho, Klara Castanho”.

Ela tem razão porque entregar uma criança em adoção não é crime Quem a julgou, afirmou que ela “acreditou que, ao “fingir” que o episódio não aconteceu, ela “talvez esquecesse”.

Karla sabe que nunca irá se esquecer, entretanto não passará pelo sofrimento do personagem descrito por Dostoiévski em seu livro Crime e Castigo: “Eu matei a mim mesmo e não a velhota! Ali, eu massacrei a mim mesmo, de uma vez só e para sempre!…” Ela optou livremente pela proteção de uma criança, durante o tempo em que cabia só a ela essa tarefa.

Dra. Elizabete Kipman

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